Conversas com… Alfredo Henriques

Alfredo Henriques, com toda a disponibilidade e simpatia que lhe é inerente, conversou connosco a respeito da sua vivência com a associação, na qualidade de um dos fundadores desta casa e 1º Presidente da Assembleia Geral.

Resultou deste encontro a presente conversa, que se reveste oportuna, não só porque a APPV já completou 20 anos, com um trabalho de destaque na nossa comunidade, mas principalmente porque cada vez mais se estreitam laços do presente com a sua história.

APPV – Como sócio fundador desta associação, passados 20 anos, tem ainda presente, as motivações que levaram a criação desta instituição?

AH – A Associação Pelo Prazer de Viver (APPV) desde o início teve como objetivo e tinha como intenção o apoio aos toxicodependentes, mas alargou para outras áreas que não tinham nenhuma cobertura a nível concelhio, como seja o caso do apoio aos mais desfavorecidos, e envolveu-se muito nessas causas. Foram áreas que não eram normais no âmbito da atuação das IPSS’s. E por esse motivo, quando o padre Bernardino se envolveu na criação desta associação, eu tive logo a sensação, a perspetiva de que iria ser uma associação diferente da generalidade das associações. A APPV teve o mérito de sair da esfera de atuação que era tradicional às outras IPSS’s do concelho.

 APPV – Há data, recorda quais os problemas sociais mais prementes do concelho?

AH – A toxicodependência era vista como sendo um grave problema. A própria Câmara da Feira envolveu-se grandemente no combate a este flagelo, ao ponto de construir de raiz um edifício onde está instalada uma unidade de tratamento. Mas este não foi um processo fácil. Muita gente não aceitava que se fosse construída uma casa de apoio aos toxicodependentes no concelho da Feira. Tivemos algumas guerras, felizmente conseguimos, a Câmara e a Associação, alterar algumas dessas mentalidades.

 APPV – Sabendo que o senhor foi sempre um elemento muito ativo na vida da APPV, consegue eleger um momento particularmente marcante no decorrer dos vários mandatos nos quais fez parte?

AH – Há duas questões que para mim foram as mais marcantes. Por um lado todo o envolvimento que a Associação teve nas questões da toxicodependência, e o trabalho conjunto com a Câmara, no derrubar de barreiras para que esta questão fosse assumida como sendo um problema social. Por outro, foi também marcante, todo o processo que envolveu a construção do edifício do Centro Comunitário, e o assumir de responsabilidades para o desbloquear de situações que poderiam comprometer a sua execução.

 APPV – Sente que a sua atuação foi importante para o ultrapassar de algumas barreiras?

AH – Não quero assumir um papel que não tive. A minha atuação enquanto Presidente da Câmara passava por estar presente junto das associações do concelho. Estas muitas vezes vinham ter com o presidente da câmara apresentar os seus problemas. Em relação à APPV, é possível que numa ou noutra ocasião me tenham apresentado algum problema e eu estivesse em condições de ajudar a resolver e tenha dado o meu contributo. Mas não era essa a minha atuação no dia-a-dia. Agora lembro-me de ter alguma intervenção e alguma magistratura de influência junto do empreiteiro que construiu o edifício do Centro Comunitário porque, em dado momento, as posições acabaram por extremar. Era um problema financeiro e um problema grande e eu lembro que exerci alguma influência junto ao empreiteiro para suavizar e encontrar um caminho para a resolução do problema.

 APPV – Qual a avaliação do impacto do trabalho que APPV desenvolve na feira?

 AH – O trabalho da APPV no concelho teve um impacto que extravasou em muito as fronteiras da freguesia de Mozelos. Em termos de IPSS’s, a APPV foi aquela que cobriu um território maior, alargando a sua atuação a praticamente todo o Concelho. Exatamente por ser a única nalgumas valências. E isso levou a que, como não havia mais nenhuma dentro do concelho, as pessoas recorressem e ela, mesmo das freguesias mais longínquas de Mozelos.

 APPV – Quais as orientações que Associação deveria de abraçar para dar resposta às problemáticas atuais e futuras que na sua opinião marcam a nossa sociedade?

AH – Eu, atualmente, não tenho uma visão geral dos problemas do concelho. Agora, aquilo que é comum ouvirmos e infelizmente não é só no concelho, um dos problemas das famílias é a pobreza e mais concretamente o problema da pobreza envergonhada. E eu acho que, não descorando um problema que foi também uma das razões da criação da APPV que foi a toxicodependência e que infelizmente continua, há hoje este aspeto da pobreza que se agravou e que deve ser acompanhado. Hoje há no concelho da Feira algumas outras associações que se dedicam igualmente a esta problemática, eu sei que a APPV também colabora com algumas dessas associações, sendo esta uma intervenção que é importante que a APPV tenha em atenção.

 APPV – Tendo em conta a sua vasta experiência enquanto autarca, que sempre deu uma atenção muito especial às questões sociais, como gostaria que a Associação viesse a ser reconhecida num futuro a médio longo prazo?

AH – O reconhecimento da APPV passa pela continuação do seu trabalho, sem estar focada na perspetiva de vir a ser reconhecida como sendo muito melhor do que as outras. Tem é de continuar o trabalho que tem estado a fazer. E se neste momento a sociedade reconhece o papel importante que a APPV está a fazer, se as entidades reconhecem, se a câmara reconhece e tem reconhecido o papel importante que a APPV tem tido no território do concelho da Feira, só tem que continuar esse trabalho e naturalmente ir acompanhando a evolução das necessidades ao nível social. Esta pergunta que me fazem demonstra essa preocupação, acompanhar as novas necessidades, as necessidades da sociedade que nos envolve e se continuar a fazer isso. Naturalmente que daqui 20 anos vai continuar a ser reconhecida como é hoje, pelo bom papel e pelo bom trabalho que está a fazer.

 APPV – Na sua opinião, não acha que as empresas deveriam de ter um envolvimento maior nestas questões sociais? O que pode ser feito para que as empresas estejam mais envolvidas nesta área?

AH – Há algumas empresas que têm um papel social mais voltado para dentro da própria empresa, junto dos seus colaboradores. A culpa não é só das empresas, tem de haver um trabalho junto dos empresários para os sensibilizar para o apoio a esta área. Como terá de ser feito? Não sou especialista nestas questões, mas deve ser feita uma análise de como chegar a esses empresários, sendo que isso tem de ser feito com pessoas que tenham esse conhecimento, pois, a comunicação e a maneira como se faz a comunicação são muito importantes. Tem de haver uma envolvência, os nossos empresários são humanos e tem o seu sentido da responsabilidade, muitas vezes gostam de mostrar aquilo que fazem, dar visibilidade é fundamental.

 

 alfredo